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O meu 1º caminho foi o Português...
Comecei a partir da Sé do Porto com mais dois amigos. O 1º caminho, é sempre algo diferente pois, é o ir ao encontro do desconhecido. A 1ª Etapa foi entre o Porto (Sé) e Vilarinho (25Km), uma etapa em que o ambiente de cidade foi predominante. Ao chegarmos ao Albergue, logo tirei as botas para descansar e, dei-me conta de que tinha uma bolha em cada pé (sinal de que iria começar o meu sacrifício).
Neste primeiro dia ficamos num Albergue particular, onde tínhamos um mini-apartamento só para nós e além de podermos desfrutar de uma piscina. Somados a isso, devo dizer que o casal que nos recebeu foi de uma simpatia extrema!


Já a 2ª Etapa foi de Vilarinho - Barcelinhos (28Km). Foi apenas no segundo dia em que fomos mais na vertente "Natureza". Estava muito calor e os últimos 2km foram bastantes difíceis pois, as bolhas aumentaram e rebentaram... Sentia os pés como se estivessem a assar dentro das botas!
Quando finalmente chegamos ao Albergue e tirei as botas, vi que não estava muito bem. Por insistência de um do meus amigos (e ainda bem que insistiu), fomos a uma farmácia para me verem os pés. Lá encontramos a Doutora Manuela, que teve a gentileza de me fazer um curativo aos pés para poder caminhar no dia a seguir. Foi uma verdadeira Santa!
Nesse dia cozinhamos no albergue e fizemos as primeiras amizades do caminho 3 raparigas alemãs e 2 australianas.
Novo dia. Nova etapa. A 3ª Etapa foi de Barcelinhos - Ponte de Lima, a etapa mais longa (+/- 38km) e de longe a que mais sofri por causa das bolhas. Além de estar novamente muito calor, as dores que sentia não ajudavam. Eram tantas e tão intensas que cheguei a pensar desistir.
Mas, numa altura que já estava no processo de a mente entrar "em loucura" com as dores, decidi ouvir música. E, sem explicar o porquê ou como, fez-me um bem instantâneo porque, por algum tempo, esqueci completamente as dores, podendo caminhar sem olhar para trás.
São estes momentos que fazem-te ver onde o teu corpo consegue chegar e que a nível de dor consegues lidar. Sem falar no seu controle e gestão do seu lado emocional. Meus amigos foram do melhor no apoio para eu não desistir!

Quando chegamos a Ponte de Lima, ficamos em casa de um casal amigo, onde fomos recebidos com muito carinho.

Na 4ª Etapa Ponte de Lima - Rubiães (22Km), é, na minha opinião, uma das etapas mais bonitas do caminho pois é onde subimos a famosa Serra da Labruja, onde tem que se ter bastante força física porque o caminho é bastante difícil.
Mais uma vez, a parte final desta etapa foi árdua e com muito esforço devido as bolhas que tinha. Houve um momento da caminhada em que cheguei ao ponto de tirar uma bota e caminhar com um chinelo.
Ao jantar, fomos a um restaurante que tinha ao pé do Albergue público, e lá, conheci outros portugueses no caminho: um grupo de amigos de Caldas da Rainha
A 5ª Etapa foi de Rubiães - Tuí (23km). Esse foi o primeiro dia em que caminhei a maior parte sozinho. Não por que meu amigos haviam desistido mas, sim, por opção minha. Devido as dores que sentia, vi que precisava aproveitar o efeito dos analgésicos que tomava e, portanto, caminhava mais depressa que os demais.
O lado bom de caminhar sozinho é a possibilidade de conseguir refletir em tudo o que se passou e o que se passa na sua vida, fazendo uma retrospectiva. Aliás, é nisso em que eu acho que é o caminho espiritual.
Contudo, caminhar ao redor de amigos também tem seu lado bom: o de poder compartilhar. Por isso, quando estava chegar a Valença, parei numa tasca e decidi esperar pelos meus amigos.
Já encontrados e de almoço tomado, continuamos a caminhada. E, ao atravessar terras espanholas, por infelicidade do destino, acabei por chutar um ferro da ponte que liga Valença a Tuí. No momento senti apenas dores mas, tempo depois de terminar o caminho, vi que ganhei uma infeccao na unha pela pisadura, tendo que tratar posteriormente.
Na 6ª Etapa Tuí - Mós (25km) comecei, mais uma vez, o trajeto sozinho. Como vinha a frente de meus amigos, fiz o caminho alternativo que liga Tuí a Porrinho. Optei por este caminho ao invés do caminho que passa pela zona industrial pois este caminho alternativo me permitia estar em contato com o natureza, sem ruídos externos ou stress da cidade. Isso permite ao peregrino um maior contato com a sua espiritualidade e propósito no caminho.
Após passar por Porrinho, parei em Mós. Mós é uma vila que fica a apenas 5km de Porrinho. Enquanto esperava pelo meus amigos, fui para uma tasca em frente ao albergue público que, aproveito, para recomendar! Infelizmente não me recordo o nome mas digo que lá come-se e bebe-se muito bem por um preço muito baixo.


A 7ª Etapa foi Mós - Pontevedra (24km). Foi neste dia em que tive o primeiro contato em caminhar com o dia ainda não ter nascido, devido ao fuso horário. Durante algum tempo, caminhamos todos juntos mas, depois, voltei a caminhar sozinho.
A cada dia que passava, custava menos a caminhar pois as bolhas estavam finalmente a cicatrizar.
Devo ressaltar que, foi em Pontevedra que comi o melhor polvo. Além de ficar em um albergue público espaçoso, confortável e com ligação para comboios
Faltava pouco, pois já ia na 8ª Etapa (Pontevedra - Caldas de Rei (23km)). Nessa etapa, ao contrário das 3 últimas, caminhei o trajeto inteiro acompanhado. Depois de 3 dias caminhando sozinho, foi gratificante ter companhia pois a alegria era imensa. Cantavamos, brincavamos, conversavamos... isso, ao realizar o trajeto, também é bom.
Ao chegar em Caldas de Rei, fomos avisado de que os albergues públicos estavam quase lotados de peregrinos e, que por isso, tínhamos que ser mais rápidos para termos lugar. Então corremos! E conseguimos. Logo após deixarmos nossas mochilas no albergue, aproveitamos para visitar a fonte termal que lá existe. E digo-vos: foi espetacular para os meus pés!
A 9ª Etapa, Caldas de Rei - Padrón (20km) - foi curta. Como eram poucos quilómetros, meus amigos e eu chegamos cedo. Por isso, tivemos a oportunidade de aproveitar o que a cidade tinha para oferecer ao turistas. O Mosteiro e a Igreja da cidade de Padrón são paragens obrigatórias.
Para além disso, fica a ressalva de que, ao entrar na cidade de Padrón, você começa a sentir as emoções da peregrinação (e dos próprios peregrinos) e o que é a fé no caminho de Santiago de Compostela.
À noite, aproveitamos para jantarmos todos juntos já que sabíamos que seria nossa última noite juntos e que nossa peregrinação estava chegando ao fim.
10ª Etapa e fim do caminho: Padrón - Santiago de Compostela (25km). Como se escuta ao realizares o caminho: "o caminho não se faz se não apanhares um dia de chuva". Acho que a natureza também ouviu pois nessa etapa apanhamos chuva.
Fazer o caminho com chuva é uma experiência diferente. Torna-se mais cansativo fisicamente mas, espiritualmente, a caminhada fica mais leve pois tu acabas por te deixar levar por aquela limpeza que a chuva traz com ela.
Enfim, chego a Santiago. Meus amigos e eu tivemos a sorte de ver a missa do botafumeiro, um dos momentos lindos que podem ser vividos na catedral de Santiago de Compostela. Infelizmente, não tive muito tempo para visitar a cidade pois no dia seguinte tinha de apanhar o comboio para voltar para o Porto.
E o que foi chegar em Santiago de Compostela após tanto tempo de peregrinação? Posso apenas dizer que foi um momento de muitas emoções, choros, risadas... um misto de sentimentos que só ao concretizar a caminhada que se percebe tudo aquilo que passaste para fazê-la. É o fim de uma caminhada mas, sem dúvida, o começo de um "caminho" que não se acaba. Ao menos, pra mim não. Por isso realizei o caminho novamente (caminho da costa) e futuramente, realizarei outro (caminho primitivo).

Mapa com o percurso do Caminho Português
